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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Peões trocam cavalos por moto para tocar a boiada

Peões de fazendas substituiram os cavalos, tradicional meio para tocar boiada, pelas motocicletas. O veículo é considerado, por eles, mais potente e capaz de passar por trilhas, atravessar córregos e matagais, executar tarefas de doméstica, como levar os filhos à escola.
A “novidade” se tornou objeto de desejo dos moradores da zona rural de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. A facilidade de compra do veículo e a praticidade são as justificativas para que as motocicletas tomem o lugar que já foi dos cavalos.
É o caso de Walas Ramos de Jesus, 23 anos, que trabalha como vaqueiro em uma fazenda no distrito de Penha do Cassiano, a 30 km de Valadares.
- Aqui peão não usa chapéu, usa capacete. Se preciso ligar para o dono da fazenda, piloto até o alto do morro, onde pega o sinal do celular. Ganho tempo e não preciso ficar cuidando do cavalo.
As motos são usadas até para tocar o gado, tarefa tradicional na região do Rio Doce e normalmente feita por homens a cavalo. O vaqueiro Edilson Mendonça Souza, 24 anos, afirma que é a maneira mais fácil.
- Preparar o animal para a montaria e sair no galope pelas estradas é coisa do passado. Com a moto, todos ganham. O funcionário termina o serviço mais rápido e o patrão tem o empregado livre para o que precisar.
Mas nem tudo são flores e os peões sentem no bolso o preço da comodidade. Na zona rural, o litro da gasolina chega a custar R$ 4,15 – cerca de R$ 1 a mais que nos postos de combustíveis de Valadares.
Até quem não tem idade para tirar CNH (Carteira Nacional de Habilitação) faz planos para ter o próprio veículo. Rafael Oliveira, 17 anos, já guarda as economias do salário mínimo que recebe como vaqueiro para comprar uma motocicleta. Hoje, ele se desloca com o cavalo que ganhou de presente do pai.
Vida dura espanta mão de obra
Dono de uma tradicional selaria em Governador Valadares, João Batista sofre com a chegada das motos à zona rural.
- Há 10 ou 15 anos, eu vendia até sete selas por dia. Hoje, levo seis ou sete meses para fazer isso.
Para ele, a migração de vaqueiros para outras profissões e a escolha das motos para substituir cavalos são as principais vilãs.
- Agora, uma fazenda que tinha até cinco vaqueiros tem no máximo dois. E, pela praticidade, eles preferem as motocicletas.
A mudança do comportamento dos moradores da zona rural faz pecuaristas sofrerem com a falta de mão de obra especializada. Desanimados com a baixa remuneração – cerca de um salário mínimo para uma jornada que chega a ultrapassar oito horas por dia – muitos vaqueiros se mudaram para os Estados Unidos e a Europa.
O pecuarista Antônio Silva, 65 anos, levou três meses procurando um empregado para a sua fazenda.
- Os mais jovens não querem montar em um cavalo e enfrentar uma boiada debaixo do sol forte. Vaqueiros como antigamente, aqueles que preparam a sela do cavalo, cuidam do animal e dos pastos, estão em falta.
Novo comportamento:
Para o sociólogo Euler Rodrigues Vieira, a mudança de comportamento dos moradores do campo está intimamente ligada ao fácil acesso aos veículos de comunicação, que passaram a levar com mais frequência informações sobre bens de consumo à zona rural.
- Essas pessoas entendem que não estão vivendo em um mundo paralelo. Elas também podem adquirir os mesmos produtos, inclusive aqueles que vão trazer benefícios. Como a moto, que exige menos cuidados que o cavalo e garante mais higiene e agilidade. Vejo isso como uma situação natural. O ser humano se adapta ao contexto.
Foto: R7-Hoje em Dia
Fonte:sobremotos.com.br

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